15/02/22

A mulher no poder local

Foto: Crédito Ilson Soares

A mulher no poder local

Neste local, que já foi palco de grandes acontecimentos, que prima pela proximidade do povo ao governo, neste local onde já passaram grandes homens da historia da cidade e do estado do Rio Grande do Sul, pois segundo Osvaldo Aranha “não se pode falar da historia do Brasil, sem manchar a pena no sangue dos gaúchos” também não se pode contar a historia do Rio Grande do Sul, sem contar a importância e a coragem de Piratini no cenário político e estratégico do passado. Ilustres homens que tiveram acento na Câmara de Vereadores de Piratini, que tudo fizeram para o desenvolvimento político, social, cultural e econômico da cidade e do estado, desde os tempos remotos de antes, durante e depois da Guerra dos Farrapos, passando por outras revoluções dentro da província, do estado e chegando aos tempos atuais, onde as redes sociais em nossa cidade tem quiçá mais poder que a impressa constituída.



Piratini e sua Câmara de Vereadores já assistiu vários debates em sua casa legislativa. Sempre ou em 99% dos anos legislativos a Câmara e a cidade de Piratini escutavam vozes masculinas, debatendo os problemas da cidade ou mesmo ideologias políticas, pois o poder legislativo é sim o lugar de debates de ideias, dentro das 4 linhas da constituição e da moralidade.



Na época farroupilha, enquanto o farrapo Vicente Lucas de Oliveira, vereador e presidente da Câmara coordenava os debates na casa do povo, demais homens piratinienses estavam em sua maioria nos frontes de batalhas, peleando contra os Imperiais, as fazendas e as casas na vila de Piratini, ficaram vazias da presença masculina em tempos de guerra. Assim surgiu a virtude e a força da mulher fez mais uma vez a diferença, pois enquanto os homens estavam na guerra as mulheres cuidavam não apenas dos filhos pequenos e dos afazeres domésticos, mas cuidavam das fazendas e muitas aprenderam a manusear armas de fogo, para assim defender suas terras e suas propriedades.


Por todo território gaúcho tínhamos mulheres estancieiras, agricultoras, donas de casa, donas de bolichos, ou pelo menos assumiram esse papel na ausência de seus maridos, pais, filhos e responsáveis. Em Piratini essa realidade não era diferente. Enquanto os homens ganhavam medalhas, títulos e louvores na história pelas guerras ou eram julgados pelos mesmos feitos e pela mesma história, para as mulheres, muitas vezes sobravam as chagas do luto e da devastação de famílias inteiras. Mas no fundo, sempre foram elas, a maior força da humanidade, arrisco-me a dizer que, liberdades, força, determinação e garra além de fibra e da coragem, são palavras femininas que traduzem o sentido da vida, mais uma palavra feminina.


O tempo passou e felizmente com muita determinação, coragem e luta as mulheres foram conquistando seus espaços. Em 24 de fevereiro de 1932, foi instituído no Brasil durante o Governo de Getúlio Vargas o voto feminino, e a mulher entrou de vez na política do país. Em 1934 Carlota Pereira de Queiróz é eleita Deputada Federal por São Paulo.


Em Piratini como citou-se, sempre predominou vozes masculinas na Câmara de Vereadores. Em um passado distante ocupou uma cadeira na Câmara a Vereadora Celina Feira de Souza, oriunda do Segundo Distrito, que haja vista, não concluiu o mandato. Em 2020 a câmara de Piratini passa a ter eleitas pelo voto do povo três mulheres, uma grande mudança e evolução nos ares da política Piratiniense. Em 2022 o ambiente austero da política muda mais uma vez, com a chegada da Vereadora Professora Lúcia Corral à mesa Diretora da Câmara, a linha sucessória em uma cidade 233 anos, que já teve duas Juízas de Direito na comarca e uma Promotora Pública, contou com uma única Vice-Prefeita, Miram Borges, hoje tem uma Defensora Pública e uma mulher como Vice-Presidenta da Câmara de Vereadores, na história da Câmara de Piratini. É a primeira vez que uma mulher senta-se à Mesa Diretora, mostrando que o espírito das mulheres farrapas e das agricultoras açorianas que deram início ao povoado de Piratini, está a cada dia mais próximo do Poder Político da pequena vila açoriana.


Sem dúvidas a Vereadora Professora Lúcia Corral, passa à história local, junto com Professora Inácia Machado, Dona Santa do Hotel, a qual foi uma mulher muito à frente do seu tempo, podendo ser considerada uma empreendedora, mulher negra e empreendedora. Lucia Corral, mulher, mãe, professora e filha do meio rural, traz para nosso Poder Legislativo um novo ar, um novo modo de pensar.


Que júbilo relatar a chegada da primeira mulher à Mesa Diretora da Câmara de Vereadores de Piratini, a qual entra na linha sucessória da Administração Municipal ao lado de um agricultor, o então Presidente da Câmara, Vereador José Auri Soares, agricultor, assentado da reforma agrária, um espaço que sempre foi dominado por homens estancieiros ou senhores abastados, hoje passa a ter o mesmo formato e sentido da maioria do nosso povo. Ha tempos a Câmara vem mudando, e sem dúvidas continuará mudando, até o presente momento, por exemplo, tivemos um vereador negro eleito ocupante de uma cadeira na Casa do Povo, o saudoso ex-vereador Renato Rocha Leite, os ambientes de poder sempre liderados por homens passa a ecoar vozes femininas, vamos torcer cada vez mais pela multiplicidade de ideais e de gêneros no poder local, trazendo assim de vez a verdadeira representatividade do povo para tomar as decisões que vão de interesse ao povo.


O voto feminino foi instituído pelo então Presidente da República Getulio Vargas, gaúcho e um dos ícones do trabalhismo no Brasil, ídolo e padrinho de Brizola. Seria então por acaso que a primeira mulher a ocupar uma vaga na Mesa Diretora da Câmara venha a ser uma professora de profissão e trabalhista de filiação?


Lucia Corral é vereadora pelo PDT partido que mantém os ideais de Getúlio, Jango, Pasqualini e Brizola vivos na memória e na defesa do povo.


Avante Anitas, Caytanas, Inácias, Santas, Lúcias, ... avante mulheres piratinienses, muito precisa-se fazer e contamos com as Senhoras, afinal o maior gesto de humanidade em meu ponto de vista já praticado no Brasil foi incentivado e sancionado por uma mulher, Princesa Isabel do Brasil.



Texto: ILSON SOARES, fundador e primeiro presidente da JS/PDT de Piratini